O Mundo Segundo Milton Santos: Entre a Fábula, a Perversidade e a Possibilidade

 



O Mundo Segundo Milton Santos: Entre a Fábula, a Perversidade e a Possibilidade

    Milton Santos, o geógrafo gigante, nos legou ferramentas essenciais para decifrar o labirinto do mundo contemporâneo. Em sua análise cortante da globalização, ele nos convida a olhar para além do véu, desdobrando a realidade em três facetas interligadas: a fábula, a perversidade e a possibilidade.

    A fábula é a narrativa oficial, o discurso hegemônico da globalização que nos é vendido diariamente. É o conto de um mundo sem fronteiras, conectado pela tecnologia, onde a informação flui livremente e as oportunidades são iguais para todos. É a "aldeia global" idealizada, onde o progresso é linear e inevitável, impulsionado por um mercado eficiente e justo. Essa fábula, disseminada por corporações, mídia e instituições financeiras, seduz com a promessa de prosperidade e integração, ocultando as fissuras e as contradições que se escondem sob essa superfície polida. É o reino da ilusão, onde a forma se sobrepõe ao conteúdo, e a propaganda mascara a realidade brutal.

    Sob essa fábula reluzente, reside a perversidade. Para Milton Santos, a globalização em sua forma atual é inerentemente perversa. É o lado cruel e desumano do sistema, onde a concentração de riqueza e poder atinge níveis obscenos. A perversidade se manifesta na crescente desigualdade social e espacial, na exclusão de vastas populações do acesso a direitos básicos, na financeirização da economia que subordina a vida à lógica do lucro especulativo. É a face da competitividade exacerbada que destrói a solidariedade, da precarização do trabalho, da violência que se torna endêmica nos espaços urbanos segregados, da degradação ambiental em nome do crescimento a qualquer custo. A perversidade é a negação da dignidade humana para a maioria, é o uso da tecnologia para controlar e vigiar, em vez de emancipar. É o aprofundamento das injustiças sob o manto da modernidade.

    Contudo, Milton Santos não era um profeta do apocalipse. Mesmo diante da perversidade gritante, ele apontava para a possibilidade. Essa possibilidade reside na capacidade de agência dos sujeitos, naqueles que vivem o cotidiano nos "chãos" do mundo, nas periferias, nos campos, nas margens. A possibilidade emerge da resistência, da inventividade e da solidariedade que brotam onde a perversidade é mais sentida. É a crença em "uma outra globalização", uma construída de baixo para cima, baseada em valores humanos, na justiça social, na equidade territorial e na cooperação. A possibilidade está na reinvenção da política, na emergência de novas formas de organização social, na luta pelo "direito à cidade" e pelo direito a uma vida digna. É a utopia concreta que se alimenta da capacidade humana de indignação e de transformação.

    Portanto, a análise de Milton Santos nos desafia a sermos críticos diante da fábula, a reconhecermos e combatermos a perversidade, e, sobretudo, a acreditarmos e atuarmos na construção da possibilidade. O mundo não está fadado a ser apenas a perversidade que a fábula esconde; ele carrega em si o potencial para ser radicalmente outro, um espaço verdadeiramente humano. A obra de Milton Santos é um chamado à lucidez e à ação para que a possibilidade não seja apenas um sonho, mas um projeto coletivo em construção.



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