A guerra de tarifas de Trump com a China significa problemas para biomas no Brasil

Alto Paraíso (GO) - Plantação de soja em área do município de Alto Paraíso. Por Marcelo Camargo/Agência Brasil

 A mudança nos ventos do comércio global de soja está criando vencedores e perdedores claros. Enquanto o Brasil consolida sua posição como o principal fornecedor para a China, regiões agrícolas do Meio-Oeste dos Estados Unidos estão enfrentando um declínio em uma de suas exportações mais cruciais.

O Eixo China-Brasil

A China, o maior consumidor mundial de soja, está direcionando cada vez mais suas compras para o Brasil. Essa mudança é impulsionada por vários fatores:

Custos e Logística: Em muitos casos, a soja brasileira tornou-se mais competitiva em termos de preço para os compradores chineses.

Guerras Comerciais: As tensões comerciais passadas entre EUA e China aceleraram a busca de Pequim por fontes alternativas de fornecimento, solidificando a parceria com o Brasil.

Safra e Capacidade: O Brasil tem expandido agressivamente sua produção, com vastas áreas de terra sendo convertidas para o cultivo de soja.

Impacto no Coração Agrícola Americano

Para os agricultores do Meio-Oeste dos EUA, tradicionalmente conhecido como o "Cinturão da Soja", essa mudança representa um sério revés econômico. A dependência da região desse grão significa que a queda nas exportações para a China se traduz em:

  1. Queda na receita para os agricultores.
  2. Pressão sobre as economias locais que dependem do setor agrícola.
  3. Preocupações sobre o futuro de um pilar de longa data da economia rural americana.

A Questão Ambiental: Amazônia e Cerrado

O aumento da produção de soja no Brasil, no entanto, tem um custo ambiental significativo. A expansão das plantações está intimamente ligada ao:

Desmatamento: Grandes áreas dos biomas da Amazônia e, principalmente, do Cerrado estão sendo desmatadas para dar lugar a lavouras de soja.

Críticas Globais: O governo brasileiro e as traders de commodities enfrentam críticas internacionais contínuas por permitirem que cadeias de suprimentos ligadas ao desmatamento alimentem o comércio global.

Esse dilema coloca a China em uma posição delicada. Por um lado, sua parceria com o Brasil é comercialmente vantajosa. Por outro, Pequim enfrenta crescente pressão para adotar políticas de "devolução" que garantam que suas importações não estejam financiando a destruição de ecossistemas vitais.

Uma decisão de compra no outro lado do mundo pode reverberar desde as planícies do Centro-Oeste americano até as fronteiras agrícolas da floresta tropical. A mudança da China para a soja brasileira está remodelando a economia agrícola global, criando prosperidade no Brasil às custas dos agricultores americanos e do meio ambiente, em um complexo jogo de comércio internacional com consequências de longo alcance.

*Tradução livre da matéria original em https://www.nytimes.com/2025/10/15/climate/china-brazil-soybeans-trade-midwest-amazon.html

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