A Cidade como Sala de Aula: O Resgate de Prédios Históricos pela Educação

 Você já parou para pensar que o prédio de uma escola pode ensinar tanto quanto os livros que estão dentro dela?

Foto: Allan Carvalho/PMF

Recentemente, a notícia de que um imóvel histórico no centro de Florianópolis — o icônico "Casarão Rosa" da Rua Padre Roma — será transformado em uma Escola Básica Municipal em 2026, levantou um debate fascinante para a Geografia Urbana: o uso do patrimônio histórico para funções contemporâneas.

Quando caminhamos pelo centro das grandes cidades brasileiras, é comum nos depararmos com um cenário de contrastes: edifícios modernos espelhados ao lado de casarões abandonados, degradados pela ação do tempo. A decisão de transformar um desses imóveis em escola vai muito além de apenas criar novas vagas para alunos; trata-se de um ato deliberado de requalificação urbana.

O Conceito de "Retrofit" e a Função Social da Propriedade

Na arquitetura e no urbanismo, chamamos de retrofit o processo de modernizar instalações antigas preservando sua estrutura original. Porém, para nós da Geografia, isso toca diretamente no conceito de Função Social da Propriedade.

Um prédio histórico fechado é um "espaço morto" na malha urbana. Ele ocupa lugar, mas não serve à comunidade. Ao ser convertido em escola, ele ganha vida, fluxo de pessoas e, o mais importante, utilidade pública. Ele deixa de ser apenas uma herança do passado para se tornar uma ferramenta do presente.

O Centro da Cidade: De Lugar de Passagem a Lugar de Vivência

Durante as últimas décadas do século XX, a tendência de muitas cidades brasileiras foi a descentralização: as moradias e as escolas migraram para os bairros, transformando o centro em um local estritamente comercial — movimentado de dia, mas deserto e muitas vezes perigoso à noite.

Trazer crianças de volta ao centro inverte essa lógica e gera externalidades positivas:

  • Segurança: O fluxo de pais e alunos em horários variados ocupa a rua.

  • Economia Local: Aumenta a demanda por serviços no entorno (papelarias, lanchonetes, transporte).

  • Rejuvenescimento Demográfico: O centro volta a ser um espaço de vivência, e não apenas de passagem rápida.

A Arquitetura como Ferramenta Pedagógica e a Identidade Local

Para o aluno, estudar em um prédio histórico é uma imersão diária na história local. As paredes altas, as janelas de madeira e a disposição dos cômodos são vestígios materiais de como a sociedade se organizava antigamente.

Isso fortalece o que o geógrafo Yi-Fu Tuan chama de Topofilia (o laço afetivo entre a pessoa e o lugar). A criança não apenas "vai à aula", ela passa a fazer parte da memória viva da cidade.

Aqui em Florianópolis, já temos exemplos da força dessa arquitetura educacional, como o imponente conjunto do Instituto Estadual de Educação (IEE) ou a histórica Escola Antonieta de Barros. O "Casarão Rosa" vem para somar a esse patrimônio, mostrando que preservar o passado não significa transformá-lo em museu intocável, mas sim integrá-lo ao futuro das novas gerações.


💡 Sugestão de Atividade para Professores

Se você é professor de Geografia ou História, aproveite esse tema com sua turma:

  1. Olhar Urbano: Peça que os alunos fotografem prédios antigos ou abandonados no bairro da escola.

  2. Reimaginação: Em sala, promova um debate: "Se este prédio fosse reformado hoje, o que ele deveria ser para melhorar o nosso bairro?" (Uma escola? Uma biblioteca? Um centro comunitário?).

  3. Mapeamento: Discuta como a mudança da função desse prédio alteraria a dinâmica da rua onde ele está.


E você, leitor? Conhece alguma escola na sua cidade que funciona em um prédio histórico restaurado? Como você acha que isso muda a relação dos alunos com o espaço escolar? Deixe seu comentário abaixo!

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