O Território
por Milton Santos com a colaboração de
Adriana Bernardes
O Brasil é o quinto país do mundo em superfície, com uma área total de 8.547.403,5 km2 e 175 milhões de habitantes. Com um Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de R$ 1,32 trilhão, em 2002, é a nona economia mundial. É considerado um país continente pelo seu tamanho e diversidade do meio natural, à qual se somou, ao longo da história, uma diversidade étnica e cultural, devida aos aportes de outros continentes.
As atuais diferenças regionais do território brasileiro têm ainda um forte componente de dados naturais mas, nas últimas décadas, o elemento central da diferenciação é dado pelo crescente acréscimo de ciência e tecnologia ao território.
Durante séculos, o Brasil pôde ser comparado a um arquipélago. As áreas economicamente mais ativas e mais densamente povoadas estavam isoladas umas das outras, comunicando-se apenas por via marítima. O povoamento se concentrava no litoral e ao longo dos rios. Nas áreas mais distantes da costa - o sertão - uma população dispersa se ocupava da criação extensiva de gado e culturas de subsistência. Até meados do século XX, o estímulo para a ocupação econômica vinha, sobretudo, da demanda de produtos para o comércio exterior.
A primeira capital, Salvador, foi escolhida em 1549 por sua posição geográfica no "coração" de um país desarticulado. Seu desenvolvimento se deveu à primeira atividade agrícola de peso, a cana-de-açúcar, no Recôncavo Baiano e também na Zona da Mata do Nordeste.
Com a exploração do ouro e das pedras preciosas, a partir do século XVIII, novas regiões foram incorporadas à fronteira econômica: os atuais estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. As necessidades de escoamento e de fiscalização da produção mineral deram ao Rio de Janeiro - que se tornou a segunda capital da colônia, em 1763 - as condições de desenvolvimento, ampliadas com a chegada da família real portuguesa, em 1808.
O século XIX marca uma nova inflexão no processo de valorização do território, com o desenvolvimento, no Sudeste, da economia cafeeira. Associados a novas condições de transportes e comunicações, como a estrada de ferro, o telégrafo e o cabo submarino, emergem setores comerciais e bancários. Já no início do século XX, há uma relativa integração em torno do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas suas relações com as demais regiões do país ainda não são muito frequentes nem significativas.
Com o desenvolvimento da indústria em São Paulo e seus arredores, esta cidade passa a ter um papel central na vida econômica do País, ampliado com o esforço empreendido, desde os anos 50, para equipar o espaço nacional e com a construção de Brasília, a nova capital do País desde 1960. Brasília é um marco no processo de interiorização, que agora se expande em direção do Centro-oeste e da Amazônia. A configuração territorial resultante vai novamente beneficiar São Paulo e a capital do estado firma-se como a metrópole econômica do País.
A partir dos anos 70, o território brasileiro passa por novas e significativas transformações. As principais bacias hidrográficas são aproveitadas para a produção de eletricidade. Modernizam-se os portos. Constroem-se algumas estradas de ferro orientadas para produtos especializados. A rede rodoviária se desenvolve com duas grandes marcas: de um lado, a construção de autopistas nos principais eixos de circulação e, de outro, estradas vicinais, sobretudo nas áreas de maior densidade econômica. Instala-se uma rede de telecomunicações, que alcança todos os municípios e, ao mesmo tempo, liga o País ao resto do mundo.
As condições estavam criadas para um processo sustentado de desenvolvimento econômico. A indústria conhece uma grande diversificação e inicia sua desconcentração. A agricultura se moderniza no Sul e no Sudeste e, em outras regiões, onde se destacam os estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Bahia. A difusão da irrigação vai permitir ao Nordeste o aproveitamento agrícola intensivo de parte de suas terras.
Essas transformações são a base de uma nova fase da organização do espaço e da urbanização, fundada numa vida de relações mais extensa e mais intensa. Nos primeiros 450 anos de história européia do Brasil, o povoamento e a urbanização foram praticamente litorâneos. Hoje o Brasil é um país urbanizado, com uma taxa de urbanização superior a 75% e diversos níveis e tipos de cidades. Com a difusão do fenômeno urbano em todas as regiões, pode-se falar, desde os anos 70, em urbanização do território. Multiplica-se o número de cidades locais, onde a população encontra resposta às suas demandas primárias de consumo material e imaterial, como educação, saúde, informação e lazer. Criam-se numerosas cidades médias em todos os estados, interiorizando seletivamente elementos mais sofisticados da vida contemporânea.
Ao mesmo tempo, o processo de metropolização não é mais limitado ao Sudeste. Se o ritmo de crescimento urbano das cidades com mais de 1 milhão de habitantes diminui, o que pode ser associado à ideia de desmetropolização, ao mesmo tempo há o surgimento de novas grandes cidades. O processo migratório se intensifica, incluindo não apenas um movimento do campo para a cidade, mas também um êxodo urbano cada vez mais acentuado.
A região concentrada, formada pelos estados do Sul e do Sudeste e por parcelas do Centro-oeste, reúne o essencial da atividade econômica do país, mesmo que em todo o território, em maior ou menor proporção, se encontrem sinais de modernização. São Paulo mantém o seu papel de metrópole nacional, baseado em sua condição de centro informacional e não mais como centro industrial.
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