Valor dos Impostos e Empregos Gerados com as Exportações do Brasil para os Estados Unidos e Principais Produtos Exportados
Resumo Executivo
Este relatório detalha o valor, os principais produtos, a geração de empregos e o impacto tributário das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Em 2024, o Brasil exportou aproximadamente US$ 40,4 bilhões para os EUA , consolidando-os como o segundo maior destino das exportações brasileiras e o principal para a indústria de transformação. Os produtos de maior destaque incluem combustíveis minerais, ferro e aço, e máquinas e equipamentos mecânicos. Essas exportações foram responsáveis pela criação de milhões de postos de trabalho e contribuíram indiretamente para a arrecadação tributária nacional, apesar da desoneração direta sobre as vendas externas.
O relacionamento comercial com os Estados Unidos é de importância estratégica, caracterizado pela complementaridade econômica e por um intenso fluxo de insumos produtivos. A estabilidade e o contínuo crescimento dessa parceria são vitais para a economia brasileira, com especial relevância para o setor industrial e o mercado de trabalho. No entanto, as recentes ameaças de imposição de tarifas de 50% por parte dos EUA representam um risco substancial, com projeções que indicam perdas bilionárias no Produto Interno Bruto (PIB), a eliminação de milhões de empregos e uma significativa redução na arrecadação fiscal.
1. Introdução
Contexto da Relação Comercial Brasil-Estados Unidos
A relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos da América figura entre as mais significativas para a economia brasileira. Os EUA não são apenas um parceiro comercial de grande volume, mas também um investidor crucial no país. Essa parceria transcende a mera troca de bens, englobando também investimentos diretos e o comércio de serviços, o que evidencia uma integração produtiva de natureza estratégica entre as duas nações. A dinâmica dessa relação tem impactos profundos na balança comercial, na geração de valor agregado e na sustentabilidade do mercado de trabalho brasileiro.
Objetivo do Relatório
O presente relatório tem como propósito oferecer uma análise aprofundada das exportações brasileiras destinadas aos Estados Unidos. Busca-se quantificar o valor dessas exportações, identificar os principais produtos que compõem essa pauta, estimar a contribuição dessas atividades para a geração de empregos e esclarecer o impacto tributário associado. Adicionalmente, o documento abordará as implicações decorrentes de cenários de tensões comerciais, como a recente ameaça de imposição de tarifas, avaliando seus potenciais efeitos sobre a economia brasileira.
Metodologia
A análise apresentada neste relatório é fundamentada em dados oficiais de comércio exterior, provenientes de fontes como a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o sistema Comex Stat. Foram também utilizados estudos e projeções de entidades setoriais relevantes, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Informações sobre o regime tributário brasileiro para exportações foram consultadas em documentos e artigos especializados. Para a conversão de valores expressos em dólar para reais, foi empregada a taxa de câmbio média anual do dólar comercial para 2024, que foi de R$ 5,5137.
2. Panorama das Exportações Brasileiras para os Estados Unidos
Valor Total das Exportações e Posição dos EUA
Em 2024, o volume das exportações brasileiras para os Estados Unidos atingiu a marca de aproximadamente US$ 40,4 bilhões. Esse montante representou cerca de 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional , sublinhando a relevância do mercado norte-americano para a economia brasileira. Os Estados Unidos consolidaram-se como o segundo maior destino das exportações do Brasil, ficando atrás apenas da China. Notavelmente, para a indústria de transformação brasileira, os EUA são o principal mercado de destino, absorvendo uma parcela significativa dos produtos manufaturados do país.
Dados Parciais de 2025
Os dados parciais de 2025 indicam uma dinâmica interessante no comércio bilateral. No acumulado do ano até abril de 2025, as exportações brasileiras para os EUA alcançaram US$ 13,1 bilhões, registrando um crescimento de 3,7% em comparação com o mesmo período de 2024. A corrente de comércio, que engloba tanto exportações quanto importações, entre Brasil e EUA atingiu US$ 27,2 bilhões até abril de 2025, o que representa um aumento de 9,4% em relação ao ano anterior e o maior valor já registrado para o quadrimestre. Em um contexto mais amplo, a corrente de comércio total do Brasil com o mundo (não exclusivamente com os EUA) ultrapassou US$ 300 bilhões no primeiro semestre de 2025, com as exportações totais somando US$ 166 bilhões.
Balança Comercial Bilateral
A análise da balança comercial entre Brasil e Estados Unidos revela um histórico de déficits para o lado brasileiro nos últimos anos. No primeiro semestre de 2025, o Brasil registrou um saldo negativo de US$ 1,67 bilhão nessa balança. Especificamente até abril de 2025, o déficit brasileiro no comércio com os EUA foi de US$ 1 bilhão, impulsionado por um crescimento das importações americanas (14,6%) superior ao aumento das exportações brasileiras para aquele país (3,7%). Em contraste, a balança comercial brasileira global em 2024 apresentou um superávit de US$ 74,6 bilhões.
Discussão sobre a Distorção por Antecipação de Compras
O crescimento observado nas exportações para os EUA no início de 2025, com um aumento de 3,7% até abril e um salto de 21,9% apenas em abril em comparação com o mesmo mês de 2024 , pode não refletir uma expansão orgânica e sustentável da demanda. Em vez disso, essa elevação é provavelmente influenciada por uma antecipação de pedidos por parte de importadores americanos. Essa antecipação é uma resposta direta ao anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, com previsão de entrada em vigor em 1º de agosto. Importadores, cientes da iminente sobretaxa, teriam acelerado suas compras para evitar os custos adicionais que seriam impostos após a data de implementação.
Essa dinâmica sugere que o crescimento recente pode ser um pico artificial e temporário, uma distorção de mercado que provavelmente será seguida por uma retração acentuada assim que as tarifas entrarem em vigor. A volatilidade gerada por tais políticas comerciais unilaterais cria um ambiente de incerteza considerável para os exportadores brasileiros, dificultando o planejamento estratégico e a manutenção de relações comerciais de longo prazo. A necessidade de monitorar os próximos meses para compreender plenamente os efeitos dessas medidas no comércio bilateral é, portanto, crucial.
Análise da Vulnerabilidade Estratégica da Indústria de Transformação
A posição dos Estados Unidos como o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira revela uma dependência estratégica que torna este setor particularmente suscetível a medidas protecionistas. Na última década, a indústria de transformação representou, em média, 82% das exportações brasileiras para os EUA. Este setor, caracterizado por maior valor agregado e capacidade de gerar empregos qualificados, é mais sensível a barreiras comerciais do que a exportação de commodities brutas.
A imposição de uma tarifa de 50% impactaria desproporcionalmente essa indústria, que já enfrenta desafios de competitividade no cenário global. A dependência do mercado norte-americano implica que as tarifas não apenas reduziriam o volume de exportações, mas também poderiam desestruturar cadeias produtivas e desestimular investimentos em inovação e agregação de valor no Brasil. Tal cenário representaria um retrocesso para a estratégia brasileira de diversificação de sua pauta exportadora, que visa justamente diminuir a dependência de commodities e fortalecer sua base industrial. O impacto transcenderia o aspecto financeiro, afetando a própria estrutura e o potencial de crescimento industrial do país, podendo, inclusive, acentuar novamente a dependência de produtos básicos caso a indústria de transformação perca seu principal mercado.
3. Principais Produtos Exportados
Detalhamento dos Produtos de Maior Valor (2024)
As exportações brasileiras para os Estados Unidos em 2024, que totalizaram aproximadamente US$ 40,4 bilhões , apresentaram uma concentração notável em determinados grupos de produtos. Os dez principais itens exportados, que em conjunto corresponderam a cerca de 70,7% do valor total das exportações para os EUA , são detalhados na Tabela 1.
Tabela 1: Top 10 Produtos Exportados do Brasil para os EUA (2024)
Produto | Valor (US$ bilhões) | Participação nas Exportações para os EUA (%) |
Combustíveis minerais, óleos minerais | 7,7 | 19,0 |
Ferro fundido, ferro e aço | 5,7 | 14,1 |
Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos | 3,6 | 9,0 |
Aeronaves e outros aparelhos aéreos | 2,7 | 6,7 |
Café, chá, mate e especiarias | 1,9 | 4,8 |
Pasta de madeira; papel ou cartão para reciclagem | 1,7 | 4,1 |
Madeira, carvão vegetal e obras de madeira | 1,6 | 3,9 |
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos | 1,4 | 3,5 |
Preparações de produtos hortícolas | 1,2 | 3,1 |
Carnes e miudezas comestíveis | 1,0 | 2,5 |
Total Top 10 | 28,5 | 70,7 |
Fonte:
Participação Setorial
A Indústria de Transformação tem sido historicamente o motor das exportações brasileiras para os Estados Unidos, representando, em média, 82% do total exportado para esse mercado na última década. Em junho de 2025, as exportações desse setor registraram um crescimento de US$ 1,55 bilhão (10,9%) em comparação com junho de 2024. No acumulado do ano, o aumento foi de US$ 3,98 bilhões (4,7%). Setores como petróleo bruto, ferro e aço, café, aeronaves e equipamentos diversos são particularmente expostos a medidas tarifárias, dado o seu peso na pauta de exportação para os EUA.
Destaque Regional (Minas Gerais e São Paulo)
O estado de São Paulo desempenha um papel proeminente nas exportações para os EUA, sendo responsável por US$ 6,63 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025. Dentre os produtos paulistas, destacam-se as aeronaves produzidas em São José dos Campos. Minas Gerais também figura como um exportador significativo, ocupando a terceira posição entre os estados brasileiros no ranking de exportações para o mercado norte-americano, com US$ 4,62 bilhões movimentados em 2024. Os principais produtos mineiros exportados incluem café (33,1%), ferro e aço (29,2%) e máquinas e materiais elétricos (4,6%).
Discussão sobre a Concentração e Vulnerabilidade Setorial
A análise da pauta exportadora brasileira para os EUA revela uma alta concentração em poucos grupos de produtos, com os dez principais respondendo por mais de 70% do total. Adicionalmente, a preponderância da indústria de transformação, que representa 82% das exportações para os EUA na última década , cria uma vulnerabilidade significativa a choques comerciais.
Uma tarifa generalizada de 50%, como a anunciada , impactaria diretamente os produtos de maior volume e valor, que constituem a espinha dorsal das exportações para os Estados Unidos. A dependência da indústria de transformação, que é mais sensível a barreiras comerciais do que as commodities brutas, agrava o risco. A concentração implica que o impacto das tarifas não seria diluído, mas sim focado em setores-chave, potencializando os danos econômicos. Empresas desses segmentos podem ser compelidas a buscar novos mercados, um processo que demanda tempo, ajustes financeiros e reestruturação operacional com custos elevados.
Essa situação pode levar a uma desindustrialização ou, no mínimo, a uma estagnação da indústria de transformação brasileira, comprometendo a capacidade do país de exportar produtos de maior valor agregado e de competir em mercados globais mais sofisticados. A dependência de commodities pode ser acentuada novamente caso a indústria de transformação perca seu principal mercado de exportação.
4. Geração de Empregos
Quantificação e Multiplicadores de Emprego
As exportações brasileiras para os Estados Unidos desempenham um papel crucial na geração de empregos no país. Estudos indicam que, para cada R$ 1 bilhão exportado para os EUA em 2024, foram criados 24,3 mil postos de trabalho no Brasil. Considerando que o Brasil exportou aproximadamente US$ 40,4 bilhões para os Estados Unidos em 2024 , e utilizando a taxa de câmbio média do dólar comercial em 2024 de R$ 5,5137 , o valor total das exportações em Reais foi de cerca de R$ 222,75 bilhões. Com base nesse montante, estima-se que as exportações para os EUA geraram aproximadamente 5.418.000 postos de trabalho no Brasil em 2024.
Impacto na Massa Salarial e Produção Nacional
Além da criação de empregos, a atividade exportadora para os EUA contribuiu significativamente para a massa salarial e a produção nacional. Para cada R$ 1 bilhão em vendas, a relação comercial gerou R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção no Brasil. Aplicando esses multiplicadores ao valor total das exportações para os EUA em 2024 (R$ 222,75 bilhões), estima-se que a massa salarial gerada foi de aproximadamente R$ 118,4 bilhões, e a produção nacional impulsionada atingiu cerca de R$ 712,8 bilhões.
Tabela 2: Impacto Econômico Gerado pelas Exportações para os EUA (2024)
Indicador | Valor Gerado (em R$) |
Postos de Trabalho | 5.418.000 |
Massa Salarial | R$ 118,4 bilhões |
Produção | R$ 712,8 bilhões |
Fonte: Cálculos do autor com base em.
Vulnerabilidade dos Empregos em Cenários de Tarifas
A imposição de tarifas pelos Estados Unidos representa uma séria ameaça a esses números. Estudos da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) preveem que uma tarifa de 50% pode levar à eliminação de mais de 1,3 milhão de postos de trabalho no Brasil no longo prazo. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por sua vez, estima uma perda de 110 mil postos de trabalho no Brasil devido à adoção de tarifas de 50% pelos EUA. Em um cenário hipotético de retaliação brasileira, com a imposição de uma tarifa recíproca de 50% sobre as importações americanas, a FIEMG projeta uma perda ainda maior, superando 1,9 milhão de empregos.
Discussão sobre o Multiplicador de Empregos e a Complementaridade Econômica
O elevado número de empregos gerados por bilhão de Reais exportados para os EUA (24,3 mil) é um forte indicativo da profunda integração produtiva entre as economias brasileira e americana. Essa complementaridade se manifesta por meio de fluxos intensos de insumos produtivos , especialmente na indústria de transformação, que é um setor intensivo em mão de obra e insumos. A geração de empregos, nesse contexto, não se restringe à produção final dos bens exportados, mas se estende por toda a cadeia de valor, desde a extração de matérias-primas até a manufatura e os serviços de apoio, como logística e transporte.
A interrupção ou redução dessas exportações devido à imposição de tarifas teria um efeito cascata em toda a economia. Os impactos negativos não se limitariam aos setores exportadores diretos, mas se propagariam para seus fornecedores e para a vasta rede de serviços e logística que os apoia. A perda de empregos, como projetado pela FIEMG em mais de 1,3 milhão , não seria apenas um dado estatístico, mas um impacto social e econômico devastador, resultando em aumento do desemprego, redução da massa salarial e potencial agravamento da pobreza, minando a estabilidade social e o poder de consumo interno do país.
Análise da Discrepância nas Projeções de Perda de Empregos
A notável diferença entre as projeções da FIEMG (1,3 milhão de empregos perdidos) e da CNI (110 mil empregos perdidos) em decorrência das tarifas destaca a complexidade inerente à modelagem econômica e as diferentes abordagens metodológicas adotadas. Embora ambas as entidades representem o setor industrial, seus estudos podem divergir em escopo, considerando, por exemplo, horizontes de tempo distintos (curto versus longo prazo) ou a abrangência dos efeitos (impacto direto versus indireto). A FIEMG, por exemplo, explicitamente menciona um cenário de longo prazo para suas projeções e também avalia um cenário de retaliação brasileira , o que naturalmente levaria a estimativas de perdas mais elevadas.
A discrepância pode ser atribuída a diferentes premissas sobre a elasticidade da demanda dos produtos brasileiros no mercado americano, a capacidade de redirecionamento dessas exportações para outros mercados e a profundidade dos efeitos multiplicadores considerados em cada modelo. Apesar das variações nos números exatos, a mensagem fundamental permanece inequívoca: a imposição de tarifas terá um impacto negativo substancial na geração de empregos no Brasil. A magnitude precisa pode ser objeto de debate, mas a direção do impacto é clara. Essa incerteza nas projeções, por si só, é prejudicial, pois dificulta o planejamento governamental e empresarial para mitigar os impactos. A necessidade de dados mais consolidados e análises harmonizadas é evidente para permitir uma resposta política mais eficaz.
5. Impacto Tributário
Regime de Desoneração Tributária das Exportações
No Brasil, a regulamentação do tratamento tributário das exportações alinha-se à prática global de desoneração de tributos indiretos, visando promover a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece a não incidência de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Programa de Integração Social (PIS/PASEP) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) sobre as exportações brasileiras.
Além da não incidência sobre o faturamento das exportações, os exportadores mantêm o direito ao crédito gerado pela incidência desses tributos na aquisição de insumos utilizados na produção dos bens destinados ao exterior. Isso assegura que os impostos incidentes ao longo da cadeia produtiva interna não sejam "exportados" junto com o produto final, o que contribui para a redução do preço final e, consequentemente, para a competitividade internacional. O Imposto de Exportação (IE), embora previsto legalmente, incide sobre a saída de mercadorias do território aduaneiro em raras exceções e para uma lista muito restrita de produtos, sendo a grande maioria das exportações isenta desse tributo.
Contribuição Indireta para a Arrecadação Tributária
Embora as exportações diretas sejam desoneradas de tributos indiretos na saída do país, a atividade econômica que elas geram contribui significativamente para a arrecadação de outros tributos. A produção, a geração de massa salarial e os lucros das empresas exportadoras são todos sujeitos a impostos internos, como o Imposto de Renda (IRPJ, IRPF), a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e outras contribuições sociais (INSS), bem como impostos sobre o consumo de insumos ao longo da cadeia produtiva interna.
Os tributos indiretos sobre mercadorias e transações representam uma parcela substancial da receita tributária total do Brasil, correspondendo a cerca de 45% em 2019 (equivalente a 14,8% do PIB) e 40,2% em 2022. Em 2024, os impostos sobre o consumo de bens e serviços foram responsáveis por 13,91% do PIB, totalizando aproximadamente R$ 1,63 trilhão. Setores fortemente exportadores, como o agronegócio, contribuem de forma expressiva para a arrecadação tributária total do país, respondendo por 23,65% (R$ 790,51 bilhões em 2022), com o setor secundário (indústria) contribuindo com 47,33% dessa arrecadação.
Projeções de Perdas de Arrecadação em Cenários de Tarifas
As projeções indicam que a imposição de tarifas pode resultar em perdas significativas para a arrecadação tributária do Brasil. Em um cenário hipotético de retaliação brasileira a tarifas americanas, a FIEMG projeta uma redução da arrecadação de impostos de até R$ 7,21 bilhões. Embora a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estime uma queda de US$ 20,4 bilhões no superávit comercial do país em 2025 devido à tarifa de 50% , essa redução, embora não seja uma perda direta de impostos, impacta a atividade econômica geral. A diminuição do superávit comercial e das exportações afeta a base tributável de toda a cadeia produtiva, o que, por sua vez, se reflete em menor arrecadação.
Discussão sobre a Natureza Indireta do Impacto Tributário das Exportações
A questão do "valor dos impostos gerados" pelas exportações é complexa devido à política de desoneração. O valor direto de impostos incidentes sobre a exportação é mínimo, uma vez que o Imposto de Exportação é raramente cobrado e os principais tributos indiretos são desonerados. O impacto tributário real das exportações é, portanto, predominantemente indireto. Ele deriva da vasta atividade econômica que as exportações estimulam na cadeia produtiva interna, incluindo a produção de bens, a geração de empregos, o pagamento de salários e os lucros das empresas. Todos esses elementos são sujeitos a tributos internos que, somados, representam uma contribuição fiscal substancial.
Quantificar o "valor dos impostos gerados com as exportações" de forma isolada é metodologicamente desafiador, pois os impostos são gerados pela atividade econômica que as exportações impulsionam, e não diretamente pela transação de exportação em si. O impacto é mais bem compreendido como a contribuição para a base tributável geral do país. A ameaça de tarifas e a consequente redução das exportações, e da atividade econômica a elas relacionada, levariam a uma queda na arrecadação total de impostos, como projetado pela FIEMG em R$ 7,21 bilhões. Isso demonstra que, embora não haja um imposto direto significativo sobre a exportação, a saúde do setor exportador é vital para a sustentabilidade fiscal do país.
Análise da Regressividade do Sistema Tributário e o Impacto das Tarifas
A estrutura tributária brasileira, que onera mais o consumo do que a renda e a propriedade , é considerada notoriamente regressiva. Em 2024, por exemplo, os impostos sobre consumo de bens e serviços responderam por 13,91% do PIB, enquanto os impostos sobre renda somaram 9,09%. Essa característica implica que qualquer retração econômica causada por tarifas nas exportações pode ter um impacto desproporcional nos impostos indiretos e, consequentemente, nos segmentos de menor renda da população.
A redução da atividade econômica e da massa salarial, resultante da queda nas exportações devido às tarifas , diminui diretamente o consumo. Como os impostos sobre consumo constituem a principal fonte de arrecadação no Brasil, a queda no consumo se traduz diretamente em menor arrecadação tributária. A perda de arrecadação de impostos, como os R$ 7,21 bilhões projetados pela FIEMG em caso de retaliação , não é apenas um número fiscal, mas um reflexo da diminuição da atividade econômica e do consumo, que, devido à regressividade do sistema, afeta mais diretamente a população de menor renda. Este cenário pode, portanto, agravar as desigualdades sociais e econômicas no Brasil, pois a redução da atividade exportadora, especialmente em setores industriais, impacta a base de empregos e salários, enquanto a estrutura tributária continua a onerar o consumo, que é a principal fonte de renda para as famílias de baixa renda.
6. Considerações Finais e Perspectivas
Recapitulação da Importância Estratégica
As exportações brasileiras para os Estados Unidos constituem um pilar fundamental da economia nacional. Em 2024, o volume de divisas geradas atingiu US$ 40,4 bilhões. Mais crucialmente, essa relação comercial é um motor significativo para a geração de empregos, estimada em mais de 5,4 milhões de postos de trabalho em 2024, e para o impulsionamento da produção e da massa salarial em diversos setores, com especial destaque para a indústria de transformação. A política de desoneração tributária direta sobre as exportações é uma estratégia para garantir a competitividade dos produtos brasileiros no mercado global, mas a atividade econômica subjacente a essas exportações contribui substancialmente para a arrecadação fiscal do país por meio de tributos indiretos e sobre a renda.
Desafios Atuais e Futuros (Ameaça de Tarifas)
O maior desafio imediato para essa parceria comercial é a recente ameaça de imposição de tarifas de 50% pelos EUA, com vigência prevista para 1º de agosto. As projeções de impactos são alarmantes: perdas potenciais de até R$ 175 bilhões no PIB , eliminação de mais de 1,3 milhão de empregos e uma redução na arrecadação tributária de R$ 7,21 bilhões em um cenário de retaliação. A concentração da pauta exportadora em poucos produtos e a dependência do mercado americano para a indústria de transformação amplificam a vulnerabilidade da economia brasileira a tais choques.
A Necessidade de Diplomacia e Diversificação
Diante desse cenário, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) enfatiza a importância de o governo brasileiro adotar uma postura firme, porém diplomática, para evitar a implementação da medida e minimizar seus impactos negativos. Além da ação diplomática, a busca por novos mercados e a diversificação da pauta exportadora tornam-se imperativas. Embora essas estratégias sejam complexas e possam envolver custos significativos , elas são essenciais para reduzir a dependência de um único mercado e aumentar a resiliência da economia brasileira a futuras tensões comerciais e volatilidades globais.
Conclusão
A parceria comercial entre Brasil e Estados Unidos é de importância vital e, como tal, deve ser protegida e fortalecida. Uma compreensão aprofundada de seus multifacetados impactos econômicos, sociais e fiscais é indispensável para a formulação de políticas públicas e estratégias empresariais eficazes. Essas ações são cruciais para garantir a sustentabilidade, a competitividade e o crescimento contínuo do comércio exterior brasileiro, mitigando os riscos associados a cenários de incerteza e protecionismo.
Referências citadas
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Tributos sobre o consumo dominam arrecadação no Brasil - Poder360, https://www.poder360.com.br/economia/tributos-sobre-o-consumo-dominam-arrecadacao-no-brasil/ 25. Agro corresponde a 23,65% da arrecadação tributária do país, diz estudo | Exame, https://exame.com/agro/agro-corresponde-a-2365-da-arrecadacao-tributaria-do-pais-diz-estudo/ 26. Setor mineral: valores de produção, de exportações e de tributos quase dobram no 1º semestre de 2021 - IBRAM, https://ibram.org.br/noticia/setor-mineral-valores-de-producao-de-exportacoes-e-de-tributos-quase-dobram-no-1o-semestre-de-2021/ 27. Impactos econômicos e fiscais de uma (re) oneração das exportações em Minas Gerais - SciELO, https://www.scielo.br/j/neco/a/v7RLHMMG9XXGbyFdLsypT4g/?format=pdf&lang=pt 28. SciELO Brasil - Impactos econômicos e fiscais de uma (re)oneração das exportações em Minas Gerais Impactos econômicos e fiscais de uma (re)oneração das exportações em Minas Gerais, https://www.scielo.br/j/neco/a/v7RLHMMG9XXGbyFdLsypT4g/?format=html 29. Preços Históricos USD/BRL - Investing.com, https://br.investing.com/currencies/usd-brl-historical-data 30. EUA ampliam superávit comercial com o Brasil em abril de 2025 - Monitor Mercantil, https://monitormercantil.com.br/eua-ampliam-superavit-comercial-com-o-brasil-em-abril-de-2025/ 31. Sobretaxa à exportações brasileiras: quais serão os impactos? - Sindilojas-SP, https://sindilojas-sp.org.br/sobretaxa-a-exportacoes-brasileiras-quais-serao-os-impactos/ 32. Impostos contra os pobres | Direito e Economia - VEJA, https://veja.abril.com.br/coluna/direito-e-economia/impostos-contra-os-pobres/ 33. “É uma perda bilionária em poucos meses”, diz presidente da AEB sobre tarifa dos EUA, https://timesbrasil.com.br/brasil/e-uma-perda-bilionaria-em-poucos-meses-diz-presidente-da-aeb-sobre-tarifa-dos-eua/
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